terça-feira, 2 de junho de 2009

Reflexão




Na minha peça, este puro prazer da luta deveria ser examinado. Quando fazia o esquema, apercebi-me desde logo de que era particularmente difícil conduzir e manter uma luta sensata, que, segundo a minha visão de então, seria uma luta que provasse qualquer coisa. Tinha cada vez mais uma peça sobre a dificuldade de conduzir uma tal luta. As personagens principais encontravam este ou aquele meio para alcançarem qualquer coisa a que se pudessem agarrar. Escolhiam, como campo de batalha, a família de um dos lutadores, o seu local de trabalho e por aí fora. Também era "ocupada" a propriedade do outro lutador (e, assim, sem o saber, aproximava-me bastante da verdadeira luta que estava de facto a acontecer e que eu apenas idealizava: a luta de classes). No final a luta acabava por se revelar aos contendores como um mero boxe de sombras; também enquanto inimigos a sua aproximação não era possível. No crepúsculo sobressai uma descoberta: que o prazer da luta no capitalismo tardio já só é uma deformação selvagem do prazer da competição. A dialéctica da peça é puramente idealista.


Bertolt Brecht,"Revendo as minhas primeiras peças"





REFLEXÃO




  • Dentro das organizações, que podemos nós, vincular esse trecho do texto de Brecht: "As personagens principais encontravam este ou aquele meio para alcançarem qualquer coisa a que se pudessem agarrar."?




  • O que você entende pela frase: "...deformação selvagem do prazer da competição."?

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